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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Crónica de D. António Vitalino

As crónicas de D. António Vitalino estão na Rádio Miróbriga

A paz, o futuro e os jovens

Na passagem de ano muitos desejos foram expressos, quase todos ao nível da realização económica, profissional e da saúde, poucos apontando para dimensões mais transcendentes, para as relações profundas da pessoa humana. É precisamente por aí que começa e termina a mensagem do Papa para o dia mundial da paz, que desde 1968 se celebra no primeiro dia do ano civil. Bento XVI convida-nos a levantar os olhos para o alto, de onde nos virá o auxílio. Exorta-nos a suspirar pela luz que vem das alturas, como a sentinela espera pela aurora. Sem esta luz dificilmente encontraremos o sentido da vida humana e do mundo.
Referindo-se à frustração reinante por causa da crise que aflige a sociedade, o mundo do trabalho e a economia, o Papa alude às suas raizes profundas, primariamente culturais e antropológicas. Nesta escuridão de sentido o coração humano anseia pela aurora. Isto nota-se particularmente nos jovens, que não é a geração rasca ou do vazio, mas a indignada perante uma sociedade sem valores. Por isso Bento XVI dirige esta primeira mensagem do ano aos jovens, que podem oferecer um valioso contributo à sociedade para encontrar rumo e sentido, dando uma nova esperança ao mundo. “A Igreja olha para os jovens com esperança, tem confiança neles e encoraja-os a procurarem a verdade, a defenderem o bem comum”, a descobrirem novas perspetivas sobre a vida e o mundo.
Este novo olhar dos jovens exige dos adultos, dos educadores e da família novas pedagogias, uma relação de amor, em que cada interveniente pôe o outro em primeiro lugar, numa atitude de respeito pela dignidade da pessoa, de abertura e de testemunho das próprias convicções e saberes. “É na família que se aprendem a solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento. Esta é a primeira escola, onde se educa para a justiça e a paz”.
À luz destes princípios os adultos e as instituições sociais, culturais e políticas, e também as religiosas, têm muito a rever na sua pedagogia, no seu testemunho e até mesmo pedir desculpa às novas gerações pelo nosso desinteresse, para não dizer esquecimento ou negação, pela verdade, pela justiça, pela solidariedade, pelo bem comum, pelos valores transcendentes e espirituais. As atitudes materialistas, egoistas e relativistas dos adultos projetaram muitas sombras e trevas nos horizontes das novas gerações. Mas o coração do ser humano, sobretudo o do jovem, dificilmente se deixa abafar. Por isso o bem-aventurado Papa João Paulo II dizia em 1982, no Parque Eduardo VII, que os jovens têm uma certa conaturalidade com Cristo, pois são mais sensíveis aos verdadeiros valores. A experiência de Santo Agostinho continua a ser feita por muitos jovens, quando descobrem a beleza do amor de Deus e a fugacidade e mentira das atrações mundanas.
Também Bento XVI manifesta uma grande confiança nos jovens, dizendo que são um dom precioso para a sociedade, exortando-os a não se deixar invadir pelo desânimo nem abandonar-se a falsas soluções, mas deixando-se fascinar pela verdade, beleza e amor verdadeiro, tornando-se assim também um exemplo e estímulo para os adultos.
Enfim, unindo as nossas forças espirituais, morais e materiais, conseguiremos alcançar a meta de um mundo com rosto mais humano, fraterno, justo, pacífico e solidário, onde dá gosto viver, sempre peregrinos do além, que está em Deus, tornado visível no Menino que nos foi dado, nascido em Belém, o Emanuel, Deus connosco, Jesus, o Salvador.
Para todos os meus votos de um ano de paz, repleto das bênçaos de Deus e de um futuro de maior esperança, em sintonia com todas as gerações, a começar pela família.
                                    
† António Vitalino, Bispo de Beja

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