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quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Crónica de D. António

A Crónica de D. António Vitalino na Rádio Miróbriga para a semana de 15 de Maio de 2012
    Sinais de esperança

1. Sinais de esperança na crise
Neste fim de semana participei em dois acontecimentos que me deixam antever alguma luz no meio do túnel da crise, quando os políticos e a comunicação social criam um fait divers a partir de expressões, infelizes para uns e reais para outros.
Tratou-se da bênção dos finalistas, vulgarmente denominada bênção das pastas, dos estudantes do ensino superior de Beja, e da peregrinação aniversária das aparições de Fátima, que este ano superou todas as expetativas no que se refere ao número de peregrinos.
No pavilhão multiusos da feira de Beja realizou-se, uma vez mais, a bênção dos finalistas, preparada pelo Pastoral do Ensino Superior da diocese, orientada pelo Pe. António Cartageno. Esta celebração envolve muitas pessoas, quase todas estudantes: cantores, instrumentistas, leitores, acólitos, etc. E também atrai muita gente a Beja, vinda de todas as partes do país, de modo que a cidade fica inundada de carros. Há sempre um ambiente de muita alegria, que a reverberação do pavilhão aumenta e não favorece a atenção a discursos nem a concentração. Por isso optei uma vez mais por não ler ou proferir a alocução preparada e limitei-me a proferir alguns desafios e provocações, que a seguir transcrevo.
Parafraseando o trecho do evangelho proclamado, onde se lê “nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu”, afirmei: nem todo aquele que estudou e sabe entrará no mundo do trabalho, mas aquele que tem padrinhos e cunhas de peso. Isto é tanto mais verdade neste momento de grande percentagem de desempregados, sobretudo entre os jovens.
Constatando a verdade desta afirmação entre os hábitos da nossa sociedade, desafiei os finalistas a unir forças para mudar o nosso país destes maus hábitos, que fomentam atitudes de preguiça, de pelágio, de falta de criatividade, de atraso cultural, social e conómico. Baseados no seu saber, devem mostrar que valeu a pena o esforço feito, que, aliado à investigação e inovação contribuirá para o desenvolvimento e o progresso do país, tirando-o da crise e evitando a emigração em massa dos nossos jovens formados e dos nossos cérebros.
Neste sentido elogiei os professores, as famílias e a sociedade que acreditam no poder do saber, desafiando-os a continuar a sua missão. Por isso lhes agradeci em nome dos finalistas e para todos implorei a bênção de Deus, que todos os anos pedem ao Bispo de Beja, porque sentem que a vida humana não é um processo do acaso, mas precisa de se abrir ao transcendente, a Deus.

2. Saber humano e bênção de Deus
A confiança na inteligência humana não se opõe à necessidade de abertura à sabedoria e bênção de Deus. Este sentir faz parte da alma do nosso povo e do seu bom senso. Por isso, espontâneamente, na procissão de saída do recinto onde foi celebrada a bênção, muitas dezenas de finalistas se aproximaram do bispo e pediram uma bênção especial e pessoal, o que fiz, assinalando-os com o sinal da cruz na fronte, felicitando-os e incitando-os a lutar com confiança.
Esta mesma abertura ao poder de Deus e à intercessão de Nossa Senhora constatei nas centenas de milhar de peregrinos de Fátima, que nos dias 12 e 13 aguentaram longas horas, de pé, no recinto do santuário, participando nas celebrações principais da peregrinação. Muitos tinham caminhado longos quilómetros, como peregrinos que vieram a pé, para virem revigorar as suas energias aos pés de Nossa Senhora. Há razões que só o coração conhece, como dizia Pascal, e os rostos dos peregrinos, muitos com lágrimas a correr, isso mesmo testemunhavam. A espiritualidade faz parte da estrutura da pessoa humana. Isto mesmo afirmou o cardeal Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura
Estas atitudes dos portugueses, quer dos estudantes quer dos peregrinos de Fátima, fazem-me acreditar que vamos superar a crise. O esforço humano, os investimentos, a investigação, a solidariedade, a justiça são imprescindíveis. Mas sem a abertura ao transcendente, a Deus, sem a fé e confiança do crente, sem a ajuda do alto, dificilmente se manterá a força e integridade das virtudes humanas. Que Nossa Senhora de Fátima mantenha viva a fé dos portugueses.
                           † António Vitalino, Bispo de Beja